quinta-feira, 21 de julho de 2016

No papel brilhante miro os olhos
Duas pérolas negras reluzentes
se indagando:
o que faço por aqui?

No espelho sujo miro os olhos
aqueles mesmos olhos
da fotografia
me indagando:
o que ainda faço por aqui?

Não é um ainda de demora
de pressa para findar
é um ainda sem resposta
tantos anos sem resposta
aguardando o tempo passar

Por que ainda não chegou
a confirmação do incerto
se aqui permaneço
é porque meu lugar não está distante
se me questiono
é porque há vida
e há
tanta
a florescer pelos meus cabelos
pelo meu rosto jovem
-ainda


quinta-feira, 12 de maio de 2016

Folhas do jornal

Introspecção fatídica incorporada à saudade
Confesso e sinto
saudade de quem fui um dia
ainda existo eu em mim?

Meus dedos passando pelas folhas dos livros
incessantemente interessados
jazz ao fundo
um Coltrane para variar
um conhaque para fingir
porque sequer toco nele

Sabe, minha existente é um eterno
colocar a bebida ao lado e não bebê-la
é um eterno negar que se sente tanto
tanto ao ponto de chorar de tanto sentir

Fui esfriando com o passar do tempo
Onde eu me perdi, então?
Fui escondendo com o passar do tempo
e se eu pudesse, diria
- não se esconda
porque se perder acontece

Hoje eu choro menos
sinto menos, talvez
tenho medo do despertar
e despertar tão forte
que sentir será transbordar
e nada nem ninguém
poderá me recolher em líquido comportado
num pote, numa garrafa
não conseguirão me absorver
nas folhas de jornal

domingo, 13 de março de 2016

Enquanto o mundo explode lá fora
Aqui dentro as linhas sacodem
Oscilam entre pensamentos
De estar onde não se está
De querer o que não se tem
De dizer o que não se diz
Não é insatisfação
É sonho
E o sonho aqui dentro existe
No reino da distância