quarta-feira, 31 de março de 2010

Different Names For The Same Thing.





Quando tudo parece desconexo, desapareço. Uma dimensão desconhecida se apodera da minha mente, de repente. E nada mais deixa de fazer sentido – embora fosse para não fazer. Sorrio. Olho de soslaio para o homem que está na porta. Ele entra. Acena para mim, bem perto do meu rosto. O entendo. Por que havia de não entendê-lo? Embora nada dissesse, a empatia era tudo que eu poderia sentir. Aceno de volta. Mas um aceno seguido de um jato de estrelas. Esperança. Era tudo que ele precisava. Perdão. Era o que eu precisava. Por quê? Ora, afinal eu o entendo. E isso não quer dizer que eu tenha passado pelo que ele já passara um dia. Que agonia; eu sabia. Sabia que nos seus olhos uma escuridão imensurável se instalava, por isso ninguém enxergava. Nem ele. Tinha medo, mas não refletia. Nuvens. Era tudo o que existia.

Urban Jungle.



Daqui de cima, olho toda a cidade. Cidade atemporal, cidade selvagem, cidade intransponível. Tento pegá-la desse ângulo, pois assim minhas mãos parecem tão grandes – e sequer me lembro delas antes assim. Aproveito o momento e jogo um papel prateado pela janela. Tão insignificante, desaparece à medida que o chão se distancia de mim; mais e mais para baixo. Não tem fim! Quando acho que  perdeu-se no caminho, me engano. Continua a cair. Por que não para? Não obtenho explicação. Estou sozinha nesse mundo de loucos; quem iria me contar, afinal? Sou eu por mim ... Mais uma vez.

terça-feira, 30 de março de 2010

It's Not Another Rainy Day.




Sentei por um breve momento – que de tão breve me fez continuar ali o resto da tarde. Cruzei minhas pernas de maneira que elas pareceram-se com um “x” desproporcional. Respirei bem fundo e decidi sair dali por algum tempo. 
Pus minha língua para fora na tentativa de pegar a chuva e guardá-la para sempre em meu corpo. Tentei rodar e deixar que ela fosse absorvida por minha pele, por meus cabelos, por minha alma. Deixei que ela lavasse todas minhas dúvidas internas, todas minhas incertezas externas, todo meu legado de dor. Tentei abraçá-la, tentei tocá-la, tentei guardá-la para outra hora;  naquela chuva não tive medo de pegar um resfriado qualquer. Nada importava. Só o barulho de meus sapatos encharcados na estradinha de terra, de minha respiração ofegante, de minhas células borbulhando de vivacidade. A gratificação de ter sido recompensada por algo tão inesperado em um dia rotineiro fez com que minha vontade de viver se tornasse maior pouco a pouco. E então, um grito de felicidade e ansiedade ecoou em toda a cidade.

Quando decidi que era hora de voltar à minha realidade – que por algumas horas se tornou tão surreal e distante, abri meus olhos vagarosamente, deixando gradativamente de ser tão pesados conforme me levantava da grama macia. 

quarta-feira, 24 de março de 2010

Múltiplo Tempo.







Correndo contra o tempo, o tempo me disse que não adiantaria fugir dele. Que baterá de frente, que será diferente desta vez. Não quer ser mais um covarde, mais um pobre de mentalidade, mais um ser no universo que nos rodeia.
  Tempo triste, tempo agoniado, tempo que passa sem ser passado. Tempo perdido, tempo apressado, tempo mal aproveitado. Existe para cada gosto, mas é preciso ser preciso, pois não poderá voltar atrás. O tempo não volta. Ele também não para.
  Se me perguntassem o que acho do tempo, diria que é pura perda de tempo. Que é pura invenção, uma contável ilusão. Difamar o tempo, eu irei. Porque sim, ainda há tempo. Para tentar ser alguém melhor; melhor que você, múltiplo tempo. 

terça-feira, 23 de março de 2010

Sentido Sem Nexo.



  O sentido não faz sentido algum. Não faz música, não emite som; fica à espreita, esperando o dia cair – para encarnar então outro personagem. Não ri, mas acena para o poeta desiludido do outro lado da rua. Ele conhece o sentido a fundo – embora aparentemente isso não faça sentido algum. Corre contra o tempo – mas se o tempo não ajuda, apoia seu maxilar gasto em um mármore frio qualquer, para contemplar as estrelas conservadas. Limpa o pó com seus dedos finíssimos, como se olhando para aqueles ácaros malditos fosse descobrir seu futuro; como se fosse uma cafeomante lendo na borra do café seu destino.
  Não consigo mais me ligar ao sentido; ele me ignora como se não ter nexo fosse algo bonito. “Não encaro assim, sentido.” E quando menos espero, de supetão ele reaparece, ouvindo minha prece desesperada de ilusão. Limpa minhas lágrimas inacabadas, varre meu chão de facas estateladas como se fosse uma constelação. Joga a impureza fora; está triste, mas não chora, pois sabe que nos encontraremos esta noite outra vez. 

domingo, 14 de março de 2010

Death Dance.





Meus olhos se fecham involuntariamente. Meu corpo se move conforme a batida me envolve; mais e mais a cada segundo.Meus pés se arrastam lentamente, como se quisesse sentir um pouco mais de contato com o chão gelado; sinto meu vestido fazendo cócegas em meu tornozelo, meus cabelos caindo por minhas espáduas, soltando do penteado. A cada giro sinto-me mais livre, exalando um perfume suave de maçã verde, que se espalha por cada centímetro do salão. Quando achei que estivesse sozinha, comecei a sentir suas mãos em minha cintura, me guiando a cada passo, a cada onda de som que escapava. Nossos corpos cada vez mais juntos – tão juntos que pude sentir sua respiração quente em minhas orelhas, seu hálito de hortelã, seu coração batendo descompassado. O calor de suas mãos cada vez mais intenso, a cada minuto que a dança continuava. Parecia que nada mais importava. O mundo não tinha significado perto do que eu pude sentir naquele momento de paz, de desespero por ter alguém tão perto de mim. Arrisquei te guiar pelo menos uma vez, e quando vi estava dançando minha própria música. A melodia da minha alma. O interlúdio do meu espírito, que se soltava a cada pisada no chão. Dançamos até o dia amanhecer. E agora podemos afirmar, com total destreza que vivemos... Quero dizer, ficamos felizes para sempre. Depois daquela noite, viver não conseguiu ser o suficiente para acompanhar tantas noites embaladas no som de nossa respiração, no som de nosso âmago desesperado por ficar junto, no gosto do sangue que corria em nossas veias, embebidos no doce vinho da eternidade; na batida da música da nossa morte; no nascimento de uma nova vida. A vida nos unirá para sempre. Literalmente.

sexta-feira, 12 de março de 2010

I am.



Eu sou o silêncio. Sou a pessoa que espera o amanhecer na janela quando todos já foram dormir; sou a batida incessante de um coração inquieto; sou a respiração entrecortada das flores que acordam durante a noite. Sou também o medo da escuridão, o temor da solidão, o pavor de não ter ninguém para abraçar. 
Mas também tenho outro lado, pois sinto que sou o singular; onde não adianta nem bater, pois ninguém irá abrir a porta. 
 Sou a estrela solitária em meio a uma noite de verão. Sou o semblante apagado, de um pequeno baú fechado, que só se abre quando ninguém está olhando. Sou a caixa de música lacrada, que só se sente preparada quando o silêncio reina no recinto. Sou a música tímida ambiente, aquela que ninguém presta atenção.
 Engraçado, sinto que tenho mais um lado, o lado que despreza e ama a solidão. O lado equilibrado, que sabe agradecer os momentos que me deixam de lado, mas sabe apreciar momentos de atenção. 
Sou um pequeno Sol brilhante, que mesmo hesitante, quer ser visto a todo custo. Sou o músico que sonha em ser reconhecido, aquele que quer ser aplaudido, quem sabe um dia por uma multidão.