segunda-feira, 2 de julho de 2012

Me tira de mim


  E agora, depois dessas discussões recorrentes, com motivos estupidamente irrelevantes para ti, e relevantes para mim, espero sem paciência. Tento de tudo para fazer o tempo passar, e só esse tic tac me tira de dentro de mim mesma e me guarda nesse aguardo sem demora.  E meu corpo te torce, distorce, mingua, evapora te espero...  Espero aqui, sentada nesse sofá velho e com cheiro de pão de ló.  Espero aqui, nessa falta do que falar e sem saber o que está errado. Te espero aqui, com as pernas cruzadas, comprimindo meu corpo que dói e não reclama. Te espero aqui, e sinto seu cheiro em meus cabelos recém-lavados. Sinto teu cheiro e teu riso e teu olhar e tua mão aqui em cima da minha e não é nada.  Não, não é nada, disse pro garçom que insiste em me perguntar o por quê de minhas lágrimas. Não, moço,  não quero café, não quero nada amargo, porque de amarga já basta essa minha vida. Eu quero um pouco de paz, quero ir pra Marte, quero ficar nua sem hora para voltar a mim mesma. Quero o silêncio dos teus barulhos, quero ficar só e contigo e comigo e nunca mais voltar. Eu volto, eu prometo. Eu mudo de ideia de repente, e leva pouco tempo para me convencer. Não vá, me leva junto porque assim eu sofro um pouquinho menos. É tudo tão tonto, tudo tão doce, e tua mão me puxa mais para baixo. A dor passa, e eu acho que nada mais merece o mesmo olhar de antes.