sábado, 30 de abril de 2011

O homicídio da saudade (e)terna

 Agora espero sua chegada mais uma vez.Vesti meus sonhos com o mais discreto traje, pus minhas ansiedades no varal e os medos na secadora. Não sou mulher de casa, mas para me desfazer do lado feio, cozinho até minhas vaidades, que é para deixar tudo mais delicado. 
  Quando sentir seu cheiro deixarei que ele nade até meus ouvidos e assim vou escutar suas vocações, nossas vidas, ambas entrelaçadas, emboram possam se desentrelaçar livremente. 
  Agora espero sua chegada, tiro meus sapatos para não pisar em minhas nuvens com força, e caminho na ponta dos pés até meu sorriso ir de encontro com o seu. Você talvez nem saiba, mas sua falta não fará falta. Eu quero que ela esteja ausente, e nós unidos pelas mãos quentes das alegrias. Saudade é algo bom quando se mata, não em tempo integral.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Bucólico




  Vamos sair daqui sem pejo, sem medo, em um piscar de luzes da cidade. Fugiremos do caos, das múltiplas luzes, da confusão, da fumaça, dos altos decibéis. Navegaremos ou voaremos, pouco importa o meio de transporte, desde que se tenha sorte ao raiar do dia. E como fluidos chegaremos sentindo cheiro de brisa, pisaremos no tapete verde que tende ao infinito, comeremos os frutos de onde se enterra a saudade de um café recém moído. 
  Voltaremos sentindo falta dos sons ensurdecedores, e cegados pela vastidão de tecnologia e lâmpadas, me desfaço, olho para trás em busca de uma paisagem de conforto. 

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Ser

  Hoje vi um sorriso. E não era um qualquer: era a boca do vento deslizando lentamente para os lados, mostrando seus dentes puros como pérolas. 
  Hoje senti um afago. E me surpreendi: era o mar acarinhando minha alma em fase de transição, lambendo as incertezas como labaredas cristalinas. 
  Hoje senti um cheiro. E era a vida, me puxando para perto de si com sua luz radiante ofuscando meus olhos, segurando minhas mãos, apoiando-se em meus ombros. 
  Hoje eu sou. 

Quebrando paredes




Acordar e aceitar que é imprescindível haver um momento de descanso, de alegria, é um passo enorme para carregar a bateria de coisas boas. Agora sei que é possível resgatar meus risos, minhas levezas, meus pensamentos, meus planos, sem sofrimento. Não adianta querer fechar-se e blindar-se com um muro mais concreto do que o medo...Não há como mantê-lo se o que se quer é ter verdades e delas partir o sustento.  

sábado, 23 de abril de 2011

Insônia

Quando sinto que o mundo não vai mudar, e escuto na sua voz a certeza de tantas coisas, eu paro. Paro porque mesmo que minha mente não queira acreditar que tudo pode ser diferente ao meu redor, eu sinto que pode.O que acontece é a saudade de sorrir sem motivo, assim como eu sorria antigamente. Saudade de respirar e sentir vontade de correr e aproveitar todas as oportunidades críveis que poderiam existir. Medo do que está por vir, dúvidas de quem eu sou, aonde vou, aonde quero ir. Eu assumo que o medo me toma por dentro e se instala aos poucos, mas não quero ser diferente do que eu era. E isso repele as coisas lindas que só consigo ver com lentes de aumento, vulgo seus olhos. Pela primeira vez quero estar errada, e pegar seu ponto de vista como ponto de arranque, para voltar a correr atrás da felicidade, e não só do meu sonho. Preciso de levezas na porta de casa, na mochila, nos pés. 

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Tua




Hoje senti saudade do significado das suas palavras, e do jeito que elas flutuam pelo ar, até chegarem em meus ouvidos como sons particulares. Senti falta de reconhecer seu cheiro, de roubar seus beijos, de respirar você.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Perpétuo

Ser escrava de si mesma é um perigo, pois quando se deixa folgar um dia, a confiança é dada, sendo o primeiro passo para a desordem. Se for para escravizar-se, que seja com a rigidez de um capataz, para não fugir de seu próprio rumo.

domingo, 3 de abril de 2011

Cheiro de tarde

  
 Embora aparentemente fosse um dia comum, você veio. Chegou e tomou conta da casa com seu cheiro de duas e meia, sorrindo como se nunca houvesse ido parar em outro lugar qualquer. Tocou meu rosto com seus dedos quentes, com suas palmas macias, com seus olhos a me encarar. Eu sorri, desejando seu abraço, esperando um momento para me recompor e fingir que não estava me sentindo parte daquele momento - embora me sentisse. Não posso negar, pois me sinto parte de mim mesma quando me deparo com sua presença, fazendo de minha risada sua sala de estar. 

 Eu te amo. Já sinto falta de nós

sábado, 2 de abril de 2011

Amorfa




Será que é possível me preencher de levezas até amanhã? Porque quero parar de sentir dor pelos outros, e esquecer que não tenho tempo para sentir as minhas. Ainda estou amorfa, esperando ansiosamente para ganhar forma pela primeira vez, como um primeiro toque. Sinto falta de acontecimentos repentinos. Olhar para trás e notar que as mudanças só acontecerão na última etapa me desnorteia, mas dá coragem. Só que preciso de muito mais, e esses sentimentos talvez eu encontre no parapeito de uma janela, embora não durem o tempo suficiente para uma opinião ser mudada. Eu quero mudar de opinião. Do jeito que está não pode ficar.

Da falta


 Queria tanto, mas tanto algo que despertasse um sorriso instantâneo em meus lábios. Aquela luz que jamais sai está cada vez mais enroscada em meus órgãos, fazendo deles sua casa permanente. São seis dias agindo no modo mecânico, e metade de um com meio sorriso. Sim, eu sabia que aconteceria isso mais dia menos dia, e que esse ano seria morno, mas no pior sentido possível. E é assim que me sinto: morna. Tão morna que aquela luz quer apagar a qualquer custo, mas hesita. E quando apagar, será para sempre.