sábado, 24 de abril de 2010

Hope Is Alive.






  Se insisto nisso aqui é porque não me falta esperança. Esperança daquela que se prova e percebe que não tem mais na cozinha. Preguiçosamente levanto e vou à rua comprar mais um pouco dela. Sei que hesito. Pode ser que no meio do caminho perca a vontade e a poltrona dura da minha casa pareça um oásis. Ou me roubem. E é esse “se, se, se” que consome a alma dos fracos que juntamente comigo vão ao mercado comprar mais esperança. Eles voltam. Mãos vazias, nós no estômago, sem histórias para contar. 

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Take A Look.


   Um dia perfeito cabe na sutileza de uma brisa de pequenos gritinhos de alegria internos de um desconhecido. Aquele que tinha brilho nos olhos, que tinha sua alma revestida de pontos cristalinos de insegurança, que logo em seguida explodiram como sucessões de respingos amarelos.Para ele, o dia tinha gosto de café bem quente. A noite, de respiração pontual. Sua voz tinha cor de âmbar cinzento. Seu cerne, gosto de rouquidão. Os sonhos eram roxos. Mas um roxo bem cintilante, que hipnotiza os dedos ansiosos para tocá-los. Como pedaços de felicidade embutidos na estante do quarto vazio - chamam atenção, fixam a mente no infinito...Pelo universo e avante.

domingo, 18 de abril de 2010

Enjoy it.



" A vida é uma montanha russa. Ou você grita o percurso inteiro, ou joga suas mãos para o alto e aproveita isso."

Decidi que gritar só me deixará sem voz. O vento que vem ao encontro das minhas mãos quando as levanto faz cócegas de tal maneira que não consigo mais abaixá-las.  É mais agradável, sabemos. 
Fica mais fácil atingir as estrelas que salpicam o céu com meus braços para cima. Não seria muito difícil tocar o Sol. Tantas possibilidades que as palavras me deixam de lado .Então, como gritar? Se conseguir, que seja de satisfação. Porque a vida é feita de levezas. 




sexta-feira, 16 de abril de 2010

When Soul Meets Body.





Hoje decidi deixar a chave na porta. Fique à vontade, pois minha mente está tão aberta quanto meu sorriso escancarado. Tanto quanto meus acordes descoordenados.Sem motivo aparente, sem propósito. Só hoje decidi largar pelo meio do caminho minhas preocupações, para que alguém as pegue para si, quem sabe. Sinta-se em casa, respire fundo e aproveite...Os dias de chuvas internas acabaram. 

domingo, 11 de abril de 2010

Make Another Wish.




Viver e não existir. Paradoxos constantes. Riso sem dor. Coração pulsante. Bebida sem gelo. Nexo sem sentido. Gostar do desespero. É, saudade é isso. É saber e não falar. Querer e esperar por algo que já se viu. Ansiar por terminar aquilo que já se fez. Repetir as sílabas. Tentar outra vez. Aquilo que desejar. Por mais que pense, é sem pensar. É intuição, é tato sem toque, é não saber dizer não. É acreditar, é encantar, é viver existindo. Quebrando letras, traçando destinos. Partindo músicas, abrindo potes, mergulho cristalino. 

Me, Yourself and Us.




De todos os pontos de vista, vejo apenas um. Respiro fundo e não me encontro. Por hora nada adiantou. Não saber se a cor que vejo é a mesma que a sua agoniza. Respostas sem perguntas... Perguntas sem respostas. Não quero a última opção. Quero fugir e não achar o caminho de volta. Estou de cabeça pra baixo – meu mundo também. Quero que a realidade desapareça da minha frente, de todos os ângulos. Tire por obséquio as nuvens que estão acima da minha cabeça. Lace-as e faça-as sumirem daqui. Pensar está cada vez mais difícil. Tudo gira. Não faz sentido. Sairei daqui antes que a realidade se afunde cada vez mais. E se afogue em meus pensamentos que nem chegaram neste dia. Chega da frieza por hoje. Eu quero o calor de uma palavra delicada. Aquela que encaixa quase perfeitamente em um dia sem você. Aquela mesmo, que esquenta minha alma e enfeita minha ilusão. Logo quando preciso, não consigo ouvir nada além da chuva que cai torrencialmente. Só aumenta meu silêncio, meu desespero interno, o desencontro pessoal.  Estou sozinha. E por hoje não sei como agir. Mesmo se minhas pernas se movessem, minha mente estaria presa. Nada flui, nada me acalenta. Falta nada. Nada se movimenta. Falta tudo. Falta meu eu... Falta você.

sábado, 10 de abril de 2010

Forget About Everything And Runaway.


Enquanto meus dedos percorrem uma revista da semana passada, meus olhos se voltam para a multidão que me cerca. Olhares confusos, despreocupados, fixos no relógio de pulso. Testas enrugadas de preocupação excessiva, fiapos brancos de cabelos que emolduram um rosto sem expressão, uma face petrificada. Seus olhos continuam atentos, como se fossem feitos de vidro. Suas mãos ágeis se apertam de nervoso, suas bocas são mordidas pelos próprios dentes, suas mentes viajam para outra dimensão. Uma dimensão automática, sistemática, robótica. Onde a liberdade acredita ter sido reinventada – quando de fato não existe. São marionetes presas pela tênue linha do capital. Controlados por máscaras ocas, flutuantes. Queridos exterminadores da felicidade. 

quarta-feira, 7 de abril de 2010

I Need You So Much Closer.


 O sorriso que você me deu um dia, guardei. E junto a ele seu olhar, sua pele, sua personalidade, seu beijo. É inútil, eu sei. Sei que a ausência existe, e não me permite escolher. Que uma vida não cabe em uma caixa de lembranças, em um coração delicado. Mas não adianta. Sempre que puder fazer isso, farei. Porque a saudade deixa mais do que rastros e pistas - deixa cicatrizes. Por mais que apaguem superficialmente, elas existem. E sua voz que ouvi há pouco tempo é a única memória próxima de um passado-presente-futuro.É o que me segura aqui, sentada, viva, reagindo. Não me leve a mal, mas não é apenas saudade. Não é falta da sua ausência. Tampouco ausência da sua falta. É a vida, que passa como um corredor de imagens quando não quero me permitir sentir nada. Quando não estou preparada para nada. E a realidade é que nunca estou...



Eu te amo. 

Always Who I Wanted To Be.


Acordou como se houvesse levado uma pancada na cabeça. Tocou-a e a tentação de voltar para debaixo das cobertas era maior que tudo. Mas ele resistiu, esgueirando-se pelas beiradas da cama, arrastando-se pelos corredores, como um réptil. Olhou-se mais algumas vezes, para ter a certeza de que aquela face pertencia a ele. Riu, embriagado com sua imagem desgastada, inconveniente. Suas gargalhadas não eram nada sutis - tanto que as poucas crianças que passavam pela rua assustaram-se. A repulsa que provocava em todos os móveis da casa se transformava aos poucos em passatempo. Sentia prazer, sentia-se completo a cada olhadela em seu reflexo. Nada mais importava. Nada além de sua aparência medonha, fétida. Escondeu-se em seu casulo por vontade própria, não por medo do que pensariam, do que falariam. Queria ele para ele mesmo, e só. E as vozes da sua consciência sussurravam:  "Criamos então um monstro."

terça-feira, 6 de abril de 2010

Meet Me Half Way.



 Gosto do vento que vem e não continua. Da pele escondida, da voz desafinada; do dia nublado, do livro torto em cima da mesa, do açúcar que cai em excesso na xícara de chá. Gosto de quando a chuva corre de lado, quando não molham meus sapatos, quando me dão um sorriso desajeitado, sem saber sequer o que falar. Gosto da sutileza do inacabado, das linhas tortas imaginárias, do colorido não uniforme. Prefiro o improvisado, ou até mesmo o pensado que deu errado. Gosto da luz que acaba quando me convém, do borrão da caneta que mesmo sem desejar unificou meu desenho; gosto de quando algo que não espero me acontece. Gosto também da luz fraca da lâmpada quente... Não mais que da luz de velas; gosto das flores furtadas do jardim de alguém.

  O inesperado me acalenta. A surpresa me alimenta. O dia que não chegou me espera calado, escondido atrás de um jacarandá antigo. Pulando entre as estrelas infinitas. Aquelas que também me esperam. Para que eu possa me confortar, e apenas esperar mais de perto o dia que provavelmente não virá.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Are We Human? Or Are We Dancer?


Na ponta dos pés, um giro se forma. Não um giro qualquer. Um daqueles que não se sabe quando e como parar. Um giro uniforme e bem ensaiado – mesmo sem sequer um ensaio. Daqueles que quando você para, sente uma tontura teimosa, que lembra sua infância. 
Flocos de neve caindo delicadamente. Bocas abertas, línguas para fora, lábios oscilando entre o prazer e o frio. Abraços em seus próprios braços, que logo em seguida se esquecem de tudo e movem-se para cima e para baixo, modificando a paisagem natural. Queriam anjos, mas borrões na neve foi o máximo que conseguiram. Risadas desastradas, jogando o resto da neve que havia sobrado no chão quente de suas casas. Era de se esperar que ouvissem o crepitar da neve no piso de madeira... Que sentissem contra suas bochechas inchadas o calor de um beijo materno... Mas não o fizeram. Seus corpos eram frios, como a neve lá fora.
Mais uma dança, que desta vez não incluía giros, ou qualquer coisa parecida. Era uma dança metódica, sem música, com passos contados matematicamente. Sem a improvisação de antes, sem o calor que não foram capazes de sentir, sem seus corpos. Apenas suas mentes gélidas em uma apresentação virtual de suas frustrações. 

domingo, 4 de abril de 2010

Morning Routine.



Olhar pela manhã através da janela pequena de seu apartamento era o motivo de acordar todos os dias. Não era comer um pedaço de chocolate, roer unhas ou cortar borrachas. Apenas olhar o movimento constante de pessoas pela calçada; os carros multicoloridos que buzinavam ao longo da espaçosa avenida, sem parar; as poucas árvores que existiam por ali balançando de um lado para o outro sem cessar, como se dançassem L'Isle joyeuse. Era um prazer irremediável, insubstituível, incomparável.
Seu ritual matutino era saudável, imperceptível para alguns. Mas não para os pássaros que a visitavam, para ouvir sua voz aveludada, macia e rouca logo após despertar. Iam lá para avistar seu rosto amassado pelo travesseiro, seus olhos pequenos de sono, suas mãos que se moviam de um lado para o outro compulsivamente.
Não se sabe ao certo, mas após a noite virar dia, e chegar a hora de levantar, ela não o fez. Continuou em seu sono profundo, suspirando nomes de flores, as que ela sonhara em ter um dia em seu jardim – mas que por seu vício, não teve. E não era pelo vício, hábito, ou qualquer coisa parecida. Foi a rotina que a impediu. A impediu de viver.