sábado, 30 de março de 2013

 Eu tento captar a sutileza dos cliques. Te foco e desfoco como se minhas lentes fossem olhos, e como se a vida fosse uma questão de pontos de vista. Escolho a melhor distância, e se há distância, me aproximo. 

sábado, 16 de março de 2013

Receita pros dias mornos

  Dois sorrisos. Meia xícara de café com canela. Um afago. Dois beijos. Aconchego. Nuca exposta. Água infinita. Prosa e poesia na cabeceira. Biscoitos amanteigados recém saídos do forno. Saudade. Mais amor. E uma colher para misturar.

Despetalar

 As folhas caíram nessa estação. Me despetalei, me despi de pudores e ignorâncias, me cobri de amor e decidi abandonar meus fantasmas para trás. Se eu hesitei por um segundo, foi ilusão. Meu ritmo é lento, mas minha língua se move ágil pela boca, tocando todos os cantos da minha alma inquieta. Eu sorri. E percebi como é difícil andar sem titubear, correr sem primeiro andar, conseguir sem antes tentar. Não dá. Precisei dar todos os passos até aqui para me vestir de novo - nova, resplandecente e nua de estigmas.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Sujeiras de um pretério presente



 Escorro pelo ralo feito sujeira, e meus olhos lacrimejam como se pequenos grãos de areia estivessem acariciando minha íris. Sinto falta do passado, da facilidade. E respiro aliviada com a volta para casa. Minhas pernas, cansadas, titubeiam com o sacudir da cidade, e desfaleço em pedaços de choro. Só eu, eu mesma, e minhas incertezas.

sábado, 2 de março de 2013

Vidas por dias

 Tropeçou nos sapatos acumulados no meio do corredor. Um palavrão escapou feito suspiro pela boca. Era tarde, e não se ouvia mais sequer o relógio tiquetaqueando. Tateou as paredes como se buscasse os óculos em desespero pelo chão. Riu uma risada qualquer, e se jogou no sofá em queda livre. O vento que vinha da janela entreaberta tinha cheiro de mato, e um sussurro despencou da porta. Seu sono leve a fez levantar e deslizar pelo chão como se flutuasse em outra dimensão. Ela era fumaça redonda que ululava com uma leveza de outono, era um transe incaptável. Na porta, nem sombra de um abraço. Deitou no sofá mais uma vez, certa de que sua vida por aquele dia continuaria vazia - certa de que o dia seguinte era uma vida nova que estava por acontecer.