E agora,
depois dessas discussões recorrentes, com motivos estupidamente irrelevantes
para ti, e relevantes para mim, espero sem paciência. Tento de tudo para fazer
o tempo passar, e só esse tic tac me tira de dentro de mim mesma e me guarda
nesse aguardo sem demora. E meu corpo te
torce, distorce, mingua, evapora te espero...
Espero aqui, sentada nesse sofá velho e com cheiro de pão de ló. Espero aqui, nessa falta do que falar e sem
saber o que está errado. Te espero aqui, com as pernas cruzadas, comprimindo
meu corpo que dói e não reclama. Te espero aqui, e sinto seu cheiro em meus
cabelos recém-lavados. Sinto teu cheiro e teu riso e teu olhar e tua mão aqui em
cima da minha e não é nada. Não, não é
nada, disse pro garçom que insiste em me perguntar o por quê de minhas
lágrimas. Não, moço, não quero café, não
quero nada amargo, porque de amarga já basta essa minha vida. Eu quero um pouco
de paz, quero ir pra Marte, quero ficar nua sem hora para voltar a mim mesma.
Quero o silêncio dos teus barulhos, quero ficar só e contigo e comigo e nunca
mais voltar. Eu volto, eu prometo. Eu mudo de ideia de repente, e leva pouco
tempo para me convencer. Não vá, me leva junto porque assim eu sofro um
pouquinho menos. É tudo tão tonto, tudo tão doce, e tua mão me puxa mais para
baixo. A dor passa, e eu acho que nada mais merece o mesmo olhar de antes.