quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Veja bem, meu bem

 
  Veja bem, meu bem, eu poderia ter feito tudo de maneira diferente. Eu poderia ter colocado o espelho atrás da porta, o chinelo dentro do armário, a janela no teto, o sorriso nos pés, e as asas nas mãos, mas eu não o fiz. As coisas aconteceram e não pediram minha permissão. O corpo desprendeu da alma e flutuou pra tão longe que eu esqueci o que tinha vindo fazer aqui ao seu lado. Eu quis voltar atrás, mas se fosse possível passar uma borracha no que passou, não existiria o perdão. O perdão só serve pra amenizar a dor, é como colar um band-aid no machucado - mesmo assim a ardência vai continuar quando ele descolar da sua pele. Antes era tão fácil descrever o que eu sinto, mas foi como se um furacão tivesse passado na minha vida. Se eu aprendi alguma coisa? Que os impulsos só servem pra mudar a rotina, e que sem eles tudo seria tão monótono, tão simples. Você já viu algum filme se desenrolar sem um ponto crítico, sem uma problemática? Talvez nossa história seja assim, um filme desses que ninguém assiste na Sessão da Tarde, um filme europeu bem cinza e com músicas de fundo, um filme cult tão, mas tão chato, que nem os mais cinéfilos querem assistir. Porque filmes bons terminam, tudo que é bom termina, dizem por aí. Partindo desse ponto de vista, cheguei à conclusão que isso que temos é tão ruim que não tem fim. Pra quê servem os rótulos quando viver é tão bom? Deixe que pensem o que for, porque a luta não teve um fim. Você ainda vai ser aquela brisa doce, aquela xícara quente de café que me causa insônia, aquela sensação de bem estar depois do banho frio, aquele sorriso de canto de boca depois de mais uma noite acordada ao seu lado.

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