Veja bem, meu bem
Veja
bem, meu bem, eu poderia ter feito tudo de maneira diferente. Eu poderia ter
colocado o espelho atrás da porta, o chinelo dentro do armário, a janela no
teto, o sorriso nos pés, e as asas nas mãos, mas eu não o fiz. As coisas
aconteceram e não pediram minha permissão. O corpo desprendeu da alma e flutuou
pra tão longe que eu esqueci o que tinha vindo fazer aqui ao seu lado. Eu quis
voltar atrás, mas se fosse possível passar uma borracha no que passou, não
existiria o perdão. O perdão só serve pra amenizar a dor, é como colar um band-aid no machucado - mesmo assim a
ardência vai continuar quando ele descolar da sua pele. Antes era tão fácil
descrever o que eu sinto, mas foi como se um furacão tivesse passado na minha
vida. Se eu aprendi alguma coisa? Que os impulsos só servem pra mudar a rotina,
e que sem eles tudo seria tão monótono, tão simples. Você já viu algum filme se
desenrolar sem um ponto crítico, sem uma problemática? Talvez nossa história
seja assim, um filme desses que ninguém assiste na Sessão da Tarde, um filme
europeu bem cinza e com músicas de fundo, um filme cult tão, mas tão chato, que
nem os mais cinéfilos querem assistir. Porque filmes bons terminam, tudo que é
bom termina, dizem por aí. Partindo desse ponto de vista, cheguei à conclusão
que isso que temos é tão ruim que não tem fim. Pra quê servem os rótulos quando
viver é tão bom? Deixe que pensem o que for, porque a luta não teve um fim. Você
ainda vai ser aquela brisa doce, aquela xícara quente de café que me causa
insônia, aquela sensação de bem estar depois do banho frio, aquele sorriso de
canto de boca depois de mais uma noite acordada ao seu lado.
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