sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Metamorfose do esquecimento


 O chão estava coberto por uma sujeira espessa e escura, formando uma espécie de tapete de restos do dia anterior. A janela guardava marcas de palmas de mãos, carimbadas pelo frio que fazia lá fora. O piso, de tão gelado, havia congelado as marcas amarronzadas de sangue que se espalhavam feito epidemia pelos ambientes da casa. Eu tentava fugir das lembranças, mas era tudo tão vivo na minha mente, e não ia embora, não fugia, não escapava, não me deixava. Meu coração acelerava a cada respiração mais forte que eu dava, sentindo profundamente o cheiro da dor que me dilacerava a cada toque nas paredes antes tão aconchegantes, e me tirava o sorriso do rosto com um tapa bem acertado. As memórias eram tão frescas, e a cada segundo eu fazia mais força para fixa-las em minha mente, como um castigo bem merecido. Eu não sabia mais quem era aquela pessoa que havia se perdido dentro me mim, aquela mulher que abria as janelas para a luz do dia entrar, aquela pessoa que escrevia cartas para cada dia que me encontrava fora para minhas viagens à trabalho, aquele ser humano que se preocupava com o bem estar daqueles que me rodeavam. De alguma forma, o que eu fui já não importa mais, porque o que restou foi tão pouco, e é tão inútil tentar resgatar o pretérito quando o presente é pura imperfeição. Eu vesti minhas mágoas e pus o pé para fora de casa para refrescar o corpo, porque os pensamentos continuariam pulsantes, fervendo a cada ultrapassagem de sangue pelas minhas veias. Você disse que iria embora, e foi, junto com minha paciência. Por quê? Por que tanta vontade de fazer sofrer, tanto desejo de arruinar a vida alheia? Por que perfurar ainda mais a ferida que estava aberta, jorrando de agonia, por que rir quando não se acha graça, quando não...Espera, espera eu fechar a porta da rua, porque eu vi um dos seus sorrisos caminhando por aqui. E como se não bastasse, você ainda mantém alguém espionando cada passo que dou? Que você não tenha escrúpulos, eu compreendo, mas você deveria ter vergonha de tentar me dominar a cada respiração. Como se eu fosse desistir de tudo por medo...a dor é tão grande que anestesia qualquer resquício de hesitação. Eu pus tudo a perder, mas que então você exploda junto ao seu egoísmo e egocentrismo solitários. Eu vou sair, então não espere ver meu rosto mais nenhuma vez. Porque dessa vez eu fui para não voltar. Hoje vesti minha capa de felicidade, e vou tentar mais uma vez. Sem mais.

Um comentário:

  1. Vim aqui não só para agradecer ao seu comentário, mas também para dizer que sinto sim saudade de vir por aqui <3

    Gosto muito do teu canto e de cada sentido transposto por tuas palavras. Um abraço de urso, aconchegante e quente como um café que acabou de sair. :} :*

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