sábado, 2 de março de 2013

Vidas por dias

 Tropeçou nos sapatos acumulados no meio do corredor. Um palavrão escapou feito suspiro pela boca. Era tarde, e não se ouvia mais sequer o relógio tiquetaqueando. Tateou as paredes como se buscasse os óculos em desespero pelo chão. Riu uma risada qualquer, e se jogou no sofá em queda livre. O vento que vinha da janela entreaberta tinha cheiro de mato, e um sussurro despencou da porta. Seu sono leve a fez levantar e deslizar pelo chão como se flutuasse em outra dimensão. Ela era fumaça redonda que ululava com uma leveza de outono, era um transe incaptável. Na porta, nem sombra de um abraço. Deitou no sofá mais uma vez, certa de que sua vida por aquele dia continuaria vazia - certa de que o dia seguinte era uma vida nova que estava por acontecer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário