quarta-feira, 23 de julho de 2014
Estou munida de silêncio. Enquanto as palavras deslizam por meus lábios inquietos sou apenas uma saraivada de voz e dor proclamadas. Enquanto perco meu tempo com tanta prosa sem pausa, emudeço meus sentidos e mergulho numa superfície petrificada. A morte não é uma opção, mas a morte das palavras é um risco. Expressar-se com o corpo, fechar a boca, doar a alma a si mesmo é um resgate da consciência nunca antes presente. Meu tom de voz agora é linha pontilhada infinitamente quieta, meus olhos são bocas que se abrem e se fecham de segundo em segundo involuntariamente numa dança caiada e translúcida. Permiti a dádiva de não tentar impressionar o outro, de não ser personagem, de tentar ser fiel ao que habita meu interior: o nada perpétuo. Me rasgo de agonia, mas as palavras não me traem! O que está dentro há de me explodir um dia, mas a escrita me resgata e poupa os ouvidos alheios. Minha alma quer sair, as palavras acorrentam e libertam o que não tem propósito. Sou silêncio de cabeceira, sou meu próprio precipício e minhas asas.
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