segunda-feira, 10 de novembro de 2014

 Eu me agarro ao fio da naturalidade da vida para prosseguir meus andamentos cotidianos. Quando penso que estou agindo de forma natural, não o faço. Os objetos ganham timbres turvos e desmantelam na ponta da caneta ao escrever uma palavra pela metade. Era tudo brincadeira. Os sorrisos e os olhares revoltos. Era tudo rotina. Em cena. Eu sou enquanto sou e quando entendo ser deixo pelo caminho um rastro destrutivo e confuso. Não entendem. Meu ser e meu convencer de ter sido é só meu e não é nada pessoal. Minha verdade se altera até que uma palavra seja riscada do meu fazer-poético e se pulverize em silêncios desconcertantes de vazio. Eu ofereço a inutilidade da vida aos seus pés e em resposta ganho o sentido. Não o quero. Quero permanecer no meu infinito não entender ou não ser, mesmo que isso custe minha paz silenciosa e alienada. A morte não é a solução, repito para mim algumas mil vezes antes de dormir. E ao acordar sou poesia moldada nos meus próprios seios, no encaixe das vértebras e nos vãos das células. Meu suor brota versos enfileirados em pura desordem e incomoda a linearidade da vida. Que babaquice! Deslizar as mãos pelos calombos do poema-doença é encontrar-se a si mesmo na perdição do incômodo. É sentir-se doença quando se é cura para a mediocridade infame da existência inútil da dor humana. 

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