terça-feira, 23 de março de 2010

Sentido Sem Nexo.



  O sentido não faz sentido algum. Não faz música, não emite som; fica à espreita, esperando o dia cair – para encarnar então outro personagem. Não ri, mas acena para o poeta desiludido do outro lado da rua. Ele conhece o sentido a fundo – embora aparentemente isso não faça sentido algum. Corre contra o tempo – mas se o tempo não ajuda, apoia seu maxilar gasto em um mármore frio qualquer, para contemplar as estrelas conservadas. Limpa o pó com seus dedos finíssimos, como se olhando para aqueles ácaros malditos fosse descobrir seu futuro; como se fosse uma cafeomante lendo na borra do café seu destino.
  Não consigo mais me ligar ao sentido; ele me ignora como se não ter nexo fosse algo bonito. “Não encaro assim, sentido.” E quando menos espero, de supetão ele reaparece, ouvindo minha prece desesperada de ilusão. Limpa minhas lágrimas inacabadas, varre meu chão de facas estateladas como se fosse uma constelação. Joga a impureza fora; está triste, mas não chora, pois sabe que nos encontraremos esta noite outra vez. 

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