Cheguei em casa e fechei a porta sem muito cuidado como de
costume. Sem muito cuidado, pensei eu. É assim que reajo e ajo, sem muito
cuidado. Joguei a mochila para um lado, os tênis para outro, e fui procurar
algo na geladeira para comer. Apenas umas maçãs e uma jarra de água. Nada.
Insatisfeita, fui para o quarto em passo desmedidos, dançando conforme a música que não completa esse vazio tão real quanto a dor
que não sinto - tudo tão opaco, tudo tão
cinza quanto esses prédios que rodeiam o meu.
O que eu sentia não era dor, não era choro de fim de tarde, não era
desilusão, não era tristeza, depressão ou qualquer coisa do gênero. Eu não
sentia, essa era a questão. Não sentia dor, não sentia vontade de chorar,
tampouco de sorrir, nem de mergulhar nas águas mais profundas existentes nesse
mundo, só para não ter que voltar à superfície. Eu não sabia o que queria.
Peguei impulso, sentei na cama e levantei – tudo muito
devagar. E eu era tão lenta quanto uma lesma que se arrasta, a única diferença
é que eu nunca chegava a lugar algum. E não é melodrama, não estou me
lamentando, apenas relatando o que (não) acontece em minha vida. Liguei o
computador, caixa de mensagens vazia – tão vazia quanto eu, tão vazia quanto
minha geladeira, constatei. Desliguei e deixei isso tudo para lá. Essa solidão
não é nada além do isolamento que provoquei propositalmente, e agora não
adianta reclamar. Não é que eu queira ligações o dia inteiro, caixa de
mensagens cheia, mensagens no celular, cartas de amor, não é nada disso. Eu
queria uma bronca por estar me tornando isso, por ter abandonado a todos, e ao
mesmo tempo a mim mesma, por fingir que não ligo, e por realmente não ligar, e
por ser incoerente e tão vazia, e tão profunda, e tão inatingível. Eu quero
poder ser paradoxal sem me contradizer – e se eu me contradisser que ninguém me
julgue. Mas o ser humano julga, Brasil. Ele julga e te fere por querer, sem
razão, para te fazer sofrer. E eu decidi dar um basta nisso. Não quero lágrimas
no meu travesseiro, não quero ninguém para enxuga-las, não quero risos
forçados, não quero ficar refém dessa bobeira toda que todo mundo faz questão
de ficar. Não quero ser forçada a nada, nem forçar ninguém. E para isso serve
minha solidão: para esconder de mim mesma que a dor que sinto existe, e para
fingir que não tenho a capacidade de amar. E por isso é tão bom se contradizer:
para refazer os erros que até certo ponto não destruíram a vida – porque nem
sempre é tão tarde, mas pode ser tarde sempre.
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