sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Aqueles que nunca dormem



 A cidade já dormia, embalada em uma aura de simplicidade e quentura, aconchegando com suas luzes artificiais, luzes quentes, luzes próximas, luzes coloridas feito balão que sobe ao final da tarde de verão. Os sorrisos agora tomavam forma de sonhos escondidos e se fechavam em uma sincronia milimetricamente imperfeita, uns permitindo a passagem de ar pelos lábios, outros relaxando a musculatura, mantendo-os levemente inchados e róseos. A beleza que se via à noite era incontestável, porém invisível aos olhos dos viajantes noturnos, dos bêbados enluarados, dos caixeiros-viajantes que naquela hora jantavam com suas famílias sonolentas. A realeza consistia em um jogo de mistério entre o que aconteceu na noite anterior e o que aconteceria depois da meia noite do mesmo dia que se seguia. Era o devaneio, permitindo que os metidos a poetas sentassem à luz das lamparinas das praças, roçando seus dedos empoeirados nas folhas ásperas e amareladas, fantasiando um sono que nunca viria de olhos fechados. Eles, os sonhos personificados, precisavam dos olhos bem abertos para permitir que a magia acontecesse durante o dia dentro de cada um que tocasse em cada página escrita por aqueles que nunca dormem.

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