A cidade já dormia, embalada em uma aura de simplicidade e
quentura, aconchegando com suas luzes artificiais, luzes quentes, luzes próximas,
luzes coloridas feito balão que sobe ao final da tarde de verão. Os sorrisos
agora tomavam forma de sonhos escondidos e se fechavam em uma sincronia
milimetricamente imperfeita, uns permitindo a passagem de ar pelos lábios,
outros relaxando a musculatura, mantendo-os levemente inchados e róseos. A
beleza que se via à noite era incontestável, porém invisível aos olhos dos
viajantes noturnos, dos bêbados enluarados, dos caixeiros-viajantes que naquela
hora jantavam com suas famílias sonolentas. A realeza consistia em um jogo de
mistério entre o que aconteceu na noite anterior e o que aconteceria depois da
meia noite do mesmo dia que se seguia. Era o devaneio, permitindo que os
metidos a poetas sentassem à luz das lamparinas das praças, roçando seus dedos
empoeirados nas folhas ásperas e amareladas, fantasiando um sono que nunca
viria de olhos fechados. Eles, os sonhos personificados, precisavam dos olhos
bem abertos para permitir que a magia acontecesse durante o dia dentro de cada
um que tocasse em cada página escrita por aqueles que nunca dormem.
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