segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Fumaça de café

  Ele ouviu seu nome ecoando pelo ambiente logo após algumas tentativas. Olhou para trás e um sorriso inundou seu rosto silencioso. Voltou alguns passos e um abraço em forma de borboleta veio e pousou em seu corpo quente feito fumaça de café recém passado. O tempo passou feito bruma branca, feito uma cortina de renda francesa que permitia entrever as palavras escritas nos olhares de entendimento mútuo. Gargalhadas ecoando feito festa de criança, feito jardim de manhã, feito reencontro infinito. As mãos que se tocavam por um motivo meramente explicativo, mas que sabiam ter o toque um valor ultradimensional. Cada esbarrão era motivo para sentir, por debaixo das roupas espessas e ásperas, o calor da pele fina, traduzindo cada linha em sussurro inteligível e cada roçar de sonhos esquecidos em abraços casuais e propositalmente planejados. Ele era o acordar se desmantelando em palavras sem sentido, em pronúncias vagas e emboladas, em carinho para se distribuir feito flor. Ela era cheiro de turbulência, de chocolate quente, de beijo na orelha antes de dormir, de mãos perpassando o corpo que não pede só amor, mas um pouco de orvalho durante a tarde rotineira. Ela é, e também deixa de ser, sem ritmo, sem compasso, sem pretensão, uma poesia concreta com os artifícios mais abstratos que jamais leu - ela vem e não pede passagem para a saudade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário