quinta-feira, 30 de maio de 2013

Sentada há alguns minutos, esperava a comida chegar. Segurava uma taça de vinho, dando pequenos goles e brincando com o líquido no interior da boca. O vinho sacudia feito maré enfurecida, e o ato de levar o copo à boca deixava-a avermelhada. O copo, mais vazio a cada gole, tilintava de prazer a cada toque de sua língua em sua superfície lisa, a cada encostar do seus lábios mornos, a cada virada para recolher o conteúdo. O garçom chegou imediatamente para preencher o copo novamente. E o ritual se repetia, até a comida chegar. O vinho não havia acabado, então decidiu tocar nos talheres para finalmente comer. Sentia fome. Há tempos não sentia essa necessidade de ingerir algum alimento. A cada mordida na carne, a cada sabor, sua mente se dissipava do cansaço e entendia a magia do que ali estava acontecendo. Sua mente, instintivamente, comparava a vida a um prato de comida. Ou você aceita que seu corpo precisa dela, e tira proveito da melhor maneira possível, seja comendo em casa ou no melhor restaurante da cidade, ou você aceita que seu estômago não precisa de nada daquilo, e não luta para satisfazer suas necessidades corporais. Ela aceitou a primeira opção. Seja com o copo cheio ou vazio, sem ninguém para despejar mais um pouco de líquido nele, seja com o copo transbordando, sua luta diária de aceitação será vencida em pequenas batalhas. Com uma boa dose paciência.

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