terça-feira, 30 de julho de 2013

Proibido apagar


 Levantou da cama com aquela preguiça matinal habitual. Sua cabeça latejava de ter passado a noite anterior escrevendo mais umas linhas para seu artigo. Uma noite regada a gim e palavras que eram vomitadas em pequenos e doloridos partos à luz de um abajur azul celeste. Seus pés nus tocaram o chão frio, o que provocou um desconforto maior do que aquela dor constante. Seguiu em direção à cozinha, passou um café forte que inundou sua casa inteira com cheiro de manhã de domingo, e logo em seguida acendeu um cigarro, que passava por suas mãos, beijava seu lábios secos e cansados, com um tédio absoluto. A fumaça que ziguezagueava por seu rosto de pele clara parecia uma locomotiva velha e cansada, sem rumo, sem vontade, sem razão. E ela diariamente se perguntava o por quê de ficar pondo entre sua boca aquele objeto inanimado. No seu íntimo, sabia que assim como o cigarro que queima e se acende na sua inutilidade, ela também se inflamava e se apagaria em um piscar de olhos entre os lábios de alguém. 

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