quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Eternidade efêmera

 Estava sentada confortavelmente, entretida com aquela conversa corriqueira e preenchida de risadas que retumbavam o eco do ambiente barulhento. Dois olhos tristes me pediram ajuda sem muitas palavras. Era impossível não ficar com os olhos marejados e ser tocada pela leveza daqueles lábios infantis se movendo. Onde estariam seus pais? Teria ele família, uma casa pequena, um cobertor, um jantar antes de dormir, um abraço protetor antes de enfrentar o primeiro dia de aula? Teria ele tido um primeiro dia de aula? A pequenez de sua estatura denunciava sua fragilidade. Suas confirmações monossilábicas ou gestuais me causaram compaixão...ele era uma alma tão nova e já tão sofrida. Carregava consigo as marcas de uma vida inteira de faltas e espaços vazios, emanava uma maturidade tão forçada pelas situações cotidianas, que fez com que eu me sentisse privilegiada por ajudá-lo, embora triste por saber que ele não encontraria facilidades em sua jornada. A vida não é fácil nem pra quem tem uma cama pra se encostar, imagina para quem é nômade nas estradas solitárias e infindáveis. Minha recompensa foi viver mais um dia para ver aquele sorriso discreto e assustado por não saber o que é um gesto de gentileza. O que fiz não foi extraordinário - foi amar um ser humano sem ao menos conhecê-lo. Isso é amor à primeira vista: amor pela vida que se expande ao nosso redor. Amor por quem não sabe o que é ser amado. Amor por aquele amontoado de sonhos escondidos e desconhecidos...porque sonhar não custa nada. Não realizar os sonhos custa uma vida inteira que se perde nas neblinas frias da eternidade efêmera. 

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