domingo, 13 de outubro de 2013

Pedais líquidos

 Os pedais corriam soltos pela avenida, acariciando ferozmente o asfalto que esquentava com o contato. A poeira vinha em espirais e o calor vinha em ondas que dificultavam a visão. Até então, nada disso importava. Ele continuava a pedalar, o rosto avermelhado pela exposição àquele dia de verão no litoral. Suas sardas triplicavam a cada metro percorrido, o suor deslizava pelo seu rosto com lambidas mornas e espaçadas. Não havia tempo a perder. Projetou o corpo para frente, os olhos espremidos para tentar visualizar melhor o que estava pelo caminho, as mãos apertando forte a borracha dura, os pés em quase círculos, as gotas pingando, o cabelo empapado, o vento surrando seu rosto com força, mais força nos pedais, carros com suas buzinas incansáveis, sinais de trânsito inúteis, a velocidade aumentava, mais suor, dor na lombar, os pés descontroladamente ligeiros, uma luz forte ofuscando seu olhar flamejante. Uma poça se formou após o barulho oco que se ouviu. O suor transparente deu lugar à vermelhidão vital que então se esvaiu em curiosidade dos transeuntes daquela cidade qualquer. Menos um. 

Um comentário:

  1. wowowow que imagética de velocidade você proporcionou! Muito bom como sempre Julia.

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