segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Estranho natural

 A árvore era pouco a pouco desfolhada pela gravidade e deixava um tapete de tonalidades mistas, entre o ocre e o laranja, e pintava com tons pastéis a serenidade guardada em um âmago em queda e composição. A luz incidia sobre os olhos escuros causando certa repulsa e obrigando-os a permanecerem espremidos em formato de lua minguante, quase permitindo um abraço entre os cílios que faziam cócegas quando pousados no pescoço alheio, num abrir e fechar de pálpebras delicado. Resquícios de cinzas da fogueira formavam um círculo fraco, porém gracioso. Tocos de madeira estavam posicionados um ao lado do outro e serviram de banco para aqueles que ali se aninharam numa noite silenciosa, púrpura e invisível. Tocou um a um com a ponta dos dedos e levou-os ao nariz, numa tentativa vã de captar as conversas e notas embriagadas do violão. Fechou os olhos e se deixou cair sobre as folhas, causando seu farfalhar que amorteceu a queda. Em contato com a terra era ela, eles e ninguém. A ligação era imediata e irremediável. Era só paz e sintonia. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário