segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Submundo autofágico
Tossiu uma tosse tão seca que polvilhou o ambiente com areia branca e pequenas conchas amareladas. Limpou suas mãos na roupa, inundando seu corpo de água ao abrir os olhos novamente. Fingiu dormir e labaredas fulgurantes jorraram de seus ouvidos tão desacostumados a ouvir as vozes externas, já que as internas dominavam sua insanidade. Seu olhar, trôpego, fatigado, coruscava lampejos animalescos e se alimentava dos sorrisos alheios. Sua alma sugava feito bicho cada centímetro do seu próprio corpo que se contorcia em espasmos prazerosos. A pele descamava, os pedaços longos saíam na mão com facilidade, e logo paravam na língua, tilintando, para em seguida serem triturados pelos dentes caiados. Cada mordida de si mesmo deixava seu corpo em carne viva. O fogo consumiu o que não era puro. A pele, um dia, se for reposta, emudecerá a vida. Enquanto isso, apreciar seu próprio gosto é um gozo imensurável.
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Olá Julia,
ResponderExcluirSou seu mais novo seguidor.
Estamos falando aqui sobre o gozo imensurável de um terror explicito e
imponderável ou poderíamos ser mais otimistas?
Um abração carioca, minha conterrânea.
O terror é de fato explícito e imponderável, mas inevitável. E justamente por isso ele abre caminhos pro otimismo. É deixar fluir.
ExcluirOutro abraço, fique à vontade.