domingo, 8 de dezembro de 2013

Descostura

 
 Os destroços ao meu redor indicam a força da pancada. Meu estômago, embrulhado, reclama em busca de algum alimento perdido nas prateleiras do mercado, tão perdido que não se encontra mais entre as latas de ervilhas e molhos de tomate. Minha mente gira em círculos disformes e distorcem minha visão embaçada pelas lágrimas que surgem em cachoeiras ácidas. As mãos, pousadas em meu colo quente e ensanguentado de saudade, se transformam em vultos cinzentos e intocáveis de dor. Meu corpo pende para os lados sem sustentação e a costura já pode ser vista desfiando, definhando, delirando, decodificando a putrefação do interior em ruínas. O silêncio toma conta da minha voz e se despede de você, que se foi navegando rumo ao nada, disfarçado em palavras de desculpas e sentimento de culpa. A covardia foi você a maior parte do tempo. 

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