terça-feira, 31 de março de 2015

Permissão

 Sentei na cadeira de frente para uma mesa branca. O ambiente era estranho e a sensação era familiar - desamparo. A sala fria e branca com algumas pessoas ao redor movendo membros debilitados dos seus corpos frágeis e velhos que rangiam a cada movimento me dava arrepios na espinha e me fazia fechar os olhos para escutar cada craquelar de pele que secava com a temperatura do ar seco e contaminado de partida. Eu era de longe a pessoa mais jovem e sem dúvidas e mais inteira. Eu estava inteira por fora, mas por dentro meus ossos eram cacos de vidro em forma de areia. Eu desmoronava a cada segundo naquele ambiente, eu estava ficando ofegante e inquieta. Sentia coceira sem sentir absolutamente nada. Sentia tudo sem sentir e tudo girava. Rápido, girava. Eu fechei os olhos e me senti numa das manhãs frias de um sonho que já tive viajando. Era frio e eu bebia um chá de ervas frescas para amenizar a solidão. Eu estava como sempre sozinha com meus pensamentos. Era um silêncio de infinitude e eu me questionava quando alguém iria interrompê-lo para que eu pudesse prosseguir a vida pelo menos reclamando de uma distração feita por alguém do mundo exterior. Estava estocada no meu interior e não saía, feito farpa enterrada no dedo indicador. Eu fechei e abri os olhos, mas a sensação não ia embora...Minha única solução, como em todos os momentos, foi sentir. Por pior que fosse, por pior que seja, sentir é a única saída. Então que eu sinta todas as dores e calafrios de uma vez só. Que eu não esteja imune à dor. Que eu apenas sinta estar viva. 

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