domingo, 4 de abril de 2010

Morning Routine.



Olhar pela manhã através da janela pequena de seu apartamento era o motivo de acordar todos os dias. Não era comer um pedaço de chocolate, roer unhas ou cortar borrachas. Apenas olhar o movimento constante de pessoas pela calçada; os carros multicoloridos que buzinavam ao longo da espaçosa avenida, sem parar; as poucas árvores que existiam por ali balançando de um lado para o outro sem cessar, como se dançassem L'Isle joyeuse. Era um prazer irremediável, insubstituível, incomparável.
Seu ritual matutino era saudável, imperceptível para alguns. Mas não para os pássaros que a visitavam, para ouvir sua voz aveludada, macia e rouca logo após despertar. Iam lá para avistar seu rosto amassado pelo travesseiro, seus olhos pequenos de sono, suas mãos que se moviam de um lado para o outro compulsivamente.
Não se sabe ao certo, mas após a noite virar dia, e chegar a hora de levantar, ela não o fez. Continuou em seu sono profundo, suspirando nomes de flores, as que ela sonhara em ter um dia em seu jardim – mas que por seu vício, não teve. E não era pelo vício, hábito, ou qualquer coisa parecida. Foi a rotina que a impediu. A impediu de viver. 

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