sexta-feira, 7 de março de 2014

Cativeiro dos lúcidos

  Lenços estampados pendiam da parede daquela sótão úmido, mofado e que tudo vê. Eu era só um ponto naquele infinito multicolorido e particular, desconstruindo toda uma vida baseada no egocentrismo matinal que ofuscava meu próprio eu. 
 Consciente da minha finitude, toquei os lenços, um a um, com a ponta dos dedos, horizontalmente, acariciando-os como se fossem minha cria. Eu ria. Ria convulsivamente, descompassadamente, ébria de lucidez. Era engraçado ouvir minha risada alta pela primeira vez. Ali eu percebia que os sentidos tomavam conta da matéria e se desprendiam de mim. Eu já não era eu, era o que sentia. Já não temia ser amorfa no mofo, embora soubesse que não era meu lugar. Aquele cativeiro escuro só pertencia aos que ainda têm algo a perder. 

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