segunda-feira, 28 de abril de 2014

Nu oprimido

 Despidos de credos e salamaleques, o homem nu anuncia o que está por vir. Não se prende ao simples passado, nem se apega ao futuro, ele é. Embora preveja esse futuro, ele não está plenamente consciente disso. É matéria se desfazendo no ar, é água evaporando, é incenso queimando, é sempre uma ação acontecendo. A-c-o-n-t-e-c-e-n-d-o. O homem nu pode segurar uma xícara de café e derrubá-la sem se queimar - é imune ao que é cotidiano, mas ainda assim o constrói. Ele pode ser coerentemente incoerente. Gosta da sensação levemente gelada ao encostar suas nádegas no banco do metrô, aprecia o toque suave e acidental de um desconhecido em suas costas quentes, se delicia com o vento indo e voltando na pequena abertura feita ao caminhar. É pintura. É sentimental. É mal educado. Não é civilizado. Incomoda. Seus pelos pubianos são uma afronta aos olhos da multidão. Cubra-se! Cubra-se imediatamente! Ele não, não recua jamais. Continua, de frente, com a fronte desnuda, o corpo à flor da pele, somente encoberto pela repressão. E quanto mais oprimido, mais livre. 

Um comentário:

  1. Putz, Júlia. Quanta coragem desse moço, hein? Vou ver se me inspiro aqui pra me despir.

    E, sabe, acho que as roupas são o que menos importa nesse processo de despimento. Tem tantas camadas de máscaras e coisas que eu nem sei o que são... São vinte anos que eu tenho que tirar de mim antes de chegar na minha roupa. Antes de chegar no meu corpo. Antes de chegar em mim.

    um beijo imenso!

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