terça-feira, 15 de abril de 2014

Ode ao rascunho

 Estava caminhando com duas sacolas pesadas, uma em cada mão, na volta do trabalho para casa. Minhas mãos escorregavam e a garoa caía fina sobre minha pele quente. Não me importava em estar molhada, apesar de sentir um leve desconforto quando o vento sussurrava perto e me causava calafrios. Queria apenas que cada passo fosse um passo a menos, e de fato era. Pensando assim eu me mantinha em linha reta, embora meu corpo pendulasse ora para a direita, ora para a esquerda, em uma tentativa de equilibrar o peso. Tentativa. Ten-ta-ti-va. T-E-N-T-A-T-I-V-A. Pronto, era isso. Era tudo uma tentativa. Quero dizer, a vida, as pessoas, os sonhos, as atitudes, as linhas escritas, as velas acesas, tudo. De supetão, ficou claro. Eu tilintava por dentro, em soluços risonhos e minhas águas se acalmavam. Sentia paz e euforia. As combinações eram possíveis, das mais comuns às não imaginadas e inimagináveis. Queria tudo. Queria ser tudo. Sentir tudo. Meu tudo era nada. Meu tempo não existia. O espaço era o que eu desejava que fosse. Um brinde à imaginação. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário