quinta-feira, 3 de abril de 2014

Tic.Tac.Tic.Tac. Tamanha prepotência convencionar o convencionado através do som que ele sequer possui. Percepção inútil. Mais inútil era mirar o relógio às três da tarde e constatar que ainda havia tempo de sobra. Havia o tempo e ele não era aquele caminho percorrido pelos ponteiros – eu não o possuía também. Havia o tempo e ele se esvaía entre meus poros dilatados. Havia sim, e eu o perdia, algumas vezes pouco a pouco, outras numa torrente só. Não lamentava. Adiantaria perdê-lo mais um pouco em troca de algumas cascatas para molhar a face? Não, não e sim. Talvez. A possibilidade não é dádiva alguma, ela é uma escolha mental, é uma abertura de espírito, uma insanidade momentânea, um devaneio de fim de dia. É permitir-se ser o que não se é, no presente. O passado é pó, é pó desfeito, é espirro que se foi na cara alheia, é incômodo que se limpa com a palma da mão e se sacode para os lados. O passado pode ser, não necessariamente foi. Aos amargurados eu vos digo: reinvente-o. Quantas vezes forem necessárias. O passado é um monte de esterco que só serve para mudar e mudar e mudar e ser jogado no lixo outra vez. É preciso se jogar no lixo, aquela casca fina e quebradiça. É preciso morrer. É preciso nascer da morte inexistente e se esgueirar pelas beiradas do precipício. O risco é. O ser humano pode ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário