segunda-feira, 9 de junho de 2014

Proibido sentir

Corpos solitários e embutidos em armários empoeirados no horizonte silencioso e magro. Corpos fadados à decomposição evitam outros toques para manter a discrição. Um toque desmorona, eletrocuta e causa espasmos de desconforto. Um estranho encostar no braço na tarde quieta. Um esbarrar de dedos que deslizam leves pela palma da mão sem ensaios e salamaleques. Desenho os traços da face de um corpo inexistente. Para onde levaram a sensibilidade? Elevaram o homem o homem intocável, o homem insensível, o homem inflado de pudores. Não encoste aqui. Distância. Silêncio. Calaram o homem quente, aquele que abraça, que beija, que é. E ser é não pensar em estar sendo, nem em como seria, muito menos em como foi. O toque nada mais é que um pedido - a alma clama, reclama, deseja, anseia. Está frio. Ela necessita da fusão da entrega. Mas o homem silenciou a vontade. Silenciou a vida. Proibiu a transformação sem palavras. Vou na contramão. 

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