terça-feira, 14 de abril de 2015

Conveniência

 O soco acariciou o rosto e o sangue foi sentido feito presença metálica na ponta da língua. Levantou os olhos e ameaçou cair para trás, mas logo uma força quase sobre humana fez com que seus pés se fincassem fortes no chão gelado da sala. Ainda sentia a pele da mão dele passando por seu rosto e repetidas vezes sentia aquela dor como se tivesse sido a primeira vez. Os flashes se repetiam e o barulho martelava em sua cabeça em uma velocidade inimaginável, despertando a sensação de comer um alimento ácido, fazendo escorrer dentro da boca a saliva assim que sua língua se levantava e se retraía de nervoso. O calor do momento lhe dava forças e ela continuava. A cada soco imaginava uma carícia e não arredava pé. Implantaram em sua mente que a dor era necessária, que sem dor não haveria progresso, mas esqueceram - por pura conveniência - de que a dor não poderia se confundir com amor, o grito não deveria se confundir com cuidado e as cercas não poderiam ser consideradas proteção. 

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