quinta-feira, 30 de maio de 2013
Sentada há alguns minutos, esperava a comida chegar. Segurava uma taça de vinho, dando pequenos goles e brincando com o líquido no interior da boca. O vinho sacudia feito maré enfurecida, e o ato de levar o copo à boca deixava-a avermelhada. O copo, mais vazio a cada gole, tilintava de prazer a cada toque de sua língua em sua superfície lisa, a cada encostar do seus lábios mornos, a cada virada para recolher o conteúdo. O garçom chegou imediatamente para preencher o copo novamente. E o ritual se repetia, até a comida chegar. O vinho não havia acabado, então decidiu tocar nos talheres para finalmente comer. Sentia fome. Há tempos não sentia essa necessidade de ingerir algum alimento. A cada mordida na carne, a cada sabor, sua mente se dissipava do cansaço e entendia a magia do que ali estava acontecendo. Sua mente, instintivamente, comparava a vida a um prato de comida. Ou você aceita que seu corpo precisa dela, e tira proveito da melhor maneira possível, seja comendo em casa ou no melhor restaurante da cidade, ou você aceita que seu estômago não precisa de nada daquilo, e não luta para satisfazer suas necessidades corporais. Ela aceitou a primeira opção. Seja com o copo cheio ou vazio, sem ninguém para despejar mais um pouco de líquido nele, seja com o copo transbordando, sua luta diária de aceitação será vencida em pequenas batalhas. Com uma boa dose paciência.
Dos pontos de vista em mutação
Esse ar de cotidiano sorridente me conduz. Uma respiração desconhecida, uma meia jogada no sofá, uma flor amarela na janela, cachorros tentando acompanhar o ritmo daqueles que acreditam segurar as rédeas de suas próprias vidas. Quando me canso de ser humana e dos outros que me rodeiam, me surpreendo com um jeito de olhar a vida diferente, que me desperta e me renova como água pura e cristalina. Basta um casal de estranhos se envolver em um abraço, um gesto de carinho visto, uma pitada de saudade traduzida em lágrimas, para que eu recobre minha humanidade perdida. E então o ciclo recomeça, até o momento que descubro um novo ponto de vista. De novo.
terça-feira, 28 de maio de 2013
domingo, 26 de maio de 2013
Mais perto. Foca e desfoca no fundo. O olhar cada vez mais alheio e profundo corta minha alma. Ele perfura, cura, maltrata meu coração. Por que tanta beleza em um só ser? O sol que perfura as cortinas entra assim, discretamente, e seus raios, aqueles tão sutis que iluminam e colam minha ferida, pintam cada fiozinho dos seus cabelos que ganham um tom avermelhado, alterando também a cor dos seus olhos que sorriem agora mais claros. Quantas vezes, na calada da noite, me perdi nessa imensidão de cores e escuridão? Quantas vezes mergulhei no seu olhar e não pude mais voltar? Naquele quarto, naquela sala, naquela máquina de lavar roupas com o pé bambo. Tudo aqui é antigo, meu bem, assim como nosso amor e sua beleza que me dilacera de tanto carinho.
quarta-feira, 22 de maio de 2013
domingo, 19 de maio de 2013
sábado, 18 de maio de 2013
Meu tédio supera
as expectativas
das horas
esperas
dos tempos mornos
Quero momentos que gritem
a sutileza de um sorrir
momentos que insultem
o poder de fugir
das armadilhas da auto sabotagem
ao sabor da criadagem
que já não existe mais
nós já somos criados do âmago repleto
do abajur tão discreto
das cores em tons pastéis
Quero a sutileza de um amor arrebatador
as expectativas
das horas
esperas
dos tempos mornos
Quero momentos que gritem
a sutileza de um sorrir
momentos que insultem
o poder de fugir
das armadilhas da auto sabotagem
ao sabor da criadagem
que já não existe mais
nós já somos criados do âmago repleto
do abajur tão discreto
das cores em tons pastéis
Quero a sutileza de um amor arrebatador
domingo, 12 de maio de 2013
Cada respiração
é um convite
a traçar
com a ponta mais fina
novos traços
em mim
Cada lágrima
que não cai
sufoca
aperta
e fecha
resquícios daquilo que eu fui
e hoje já não existe mais
Cada dia
é um impulso
que se transforma em desejo
e cada desejo uma obsessão
cada filete
escarlate
que perpassa meu corpo
é um motivo a menos
e um motivo a mais
para me perder
é um convite
a traçar
com a ponta mais fina
novos traços
em mim
Cada lágrima
que não cai
sufoca
aperta
e fecha
resquícios daquilo que eu fui
e hoje já não existe mais
Cada dia
é um impulso
que se transforma em desejo
e cada desejo uma obsessão
cada filete
escarlate
que perpassa meu corpo
é um motivo a menos
e um motivo a mais
para me perder
Aquela tarde, quase noite, um suco de abacaxi com hortelã e um abraço. Vou te dizer, meu bem, que era tudo que eu precisava, e tudo que eu mais preciso agora. Do abraço, não do suco, mas se ele servir de desculpa para um carinho, eu aceito a culpa. Sua presença era feita de saudade, e eu achava que saudade vinha da ausência. Estaríamos nós ausentes durante o momento? Ou a saudade era tanta que preenchia meus olhos de lágrimas? Eu não consigo esconder, então viro pro lado. Você me puxa pra perto, vira meu rosto, e me encontro despida. Perto de você não há mentira. E agora me sinto flutuando no espaço, perdida em meus sentimentos. Já não sei o que sinto. Só sei que aquela leveza de antes, entre nós, não existe mais, e seus cantos, cada vez mais redondos, se desencontram dos meus, cada vez mais polidos.
sexta-feira, 10 de maio de 2013
quinta-feira, 9 de maio de 2013
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Meu copo de vinho está transbordando pra brindar os sonhos que doem, as escolhas que não são feitas, as idealizações que nunca serão palpáveis. Te ver passar é perfurar meu âmago com possibilidades, sentir seu cheiro em uma conversa, esbarrar na sua mão em um abraço, é pedir pra morrer um pouco mais. E cada dia sem você eu morro um pouco mais.
Ausências e vendavais
A ausência não pede passagem não, ela vem feito vendaval e se instala naquele canto escuro do nosso cerne. E então, progressivamente, ela se torna parte de nós. Chega um dia que você aprende a conviver com ela, e não foi por que quis. O tempo obrigou.
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Leminskizando
Sobre a mesa, duas flores amarelas. Flores simples, daquelas roubadas do jardim do vizinho. Um café bem quente, sem açúcar, e uns biscoitos amanteigados no pires de porcelana. A cama bagunçada, a janela aberta, cheiro de tempo eterno. O livro marcado na página dobrada ao meio, que dizia:
"quando eu vi você
tive uma ideia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante
basta um instante
e você tem amor bastante"
Naquele momento, entendi que o maior amor do mundo era aquele que vem de dentro e não pede licença. Amor bom é aquele que deixa ir, aquele que cuida, que respeita, que não sufoca.E nunca deixei de acreditar que ele existia. Nem um só segundo.
"quando eu vi você
tive uma ideia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante
basta um instante
e você tem amor bastante"
Naquele momento, entendi que o maior amor do mundo era aquele que vem de dentro e não pede licença. Amor bom é aquele que deixa ir, aquele que cuida, que respeita, que não sufoca.E nunca deixei de acreditar que ele existia. Nem um só segundo.
sexta-feira, 3 de maio de 2013
Hoje senti falta do seu corpo no meu. Quis aquelas faíscas
soltando e inundando meu sorriso fácil feito cachoeira. Suas mãos tirando meus
cabelos dos olhos, suas mãos nas minhas, seu beijo no meu pescoço, seu gosto em
mim. Eu poderia.
Uma despedida breve, a distância de duas vidas, tudo tão
longe, mas tão perto. Então vem pra perto. Uma hora você vai entender que nos
meus braços seu refúgio é certo, seus sonhos realizáveis. Não fuja mais e desmistifique em mim aqueles pedidos que um dia você sussurrou entre meus cabelos naquela varanda, naquelas salas escondidas, naqueles abraços que só você sabe dar. Chega mais perto,
sente o cheiro da vida se aproximando pelas brechas da nossa respiração
inatingível. Vamos embora desse lugar hoje à noite, pra onde as águas são frias
e os arrepios queimam e acalentam a alma. Vamos deixar essa vida em aberto, e
deixar reticências nas vidas dos outros, trazendo exclamações de felicidade
debaixo dos lençóis. Nem que seja por uma noite, por uma hora, por uma
eternidade inexistente.
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